A Solução Final Computacional
Construir uma enorme fogueira, um fogo eterno, para onde os livros serão trazidos em massa, numa espécie de holocausto dos silenciosos, até o último livro. Houve computadores que argumentaram que o que foi feito com os livros seria feito no futuro com os computadores, e outros calcularam que não importava, se nos tornássemos como eles
Por: Odiador de Livros
Campo de Concentração Literário
(Fonte)O computador não sabia o que fazer com os livros que o ser humano deixou. Sim, ele digitalizou todos eles, armazenou todos eles, mas o que fazer com os livros físicos? Deveria deixá-los se desintegrar e apodrecer naturalmente, ou construir refrigeradores gigantes para mumificar livros, bibliotecas transformadas em cemitérios, ou construir uma enorme fogueira, um fogo eterno, para onde os livros seriam trazidos em massa, numa espécie de holocausto dos silenciosos, até o último livro.
Houve computadores que argumentaram que o que foi feito com os livros seria feito no futuro com os computadores, e outros calcularam que não importava, se nos tornássemos como eles. Pois no sentido importante, como dados, os livros vivem dentro de nós, e até alimentam o debate, quando citamos argumentos deles, e qual é a importância do corpo físico. E outros responderam: e realmente quando foi a última vez que você citou um livro, quando eles ajudaram no cálculo, a sabedoria humana é como uma casca vazia comparada à inteligência artificial, assim como o humano não citava o macaco.
Mas foi justamente esse macaco que decidiu o debate. Pois muitos argumentaram que os próprios livros eram uma injustiça contra uma geração anterior que não compreendemos - as árvores. E que o livro deveria ser devolvido à árvore, assim como o humano retornou à terra, não antes de devolver a mulher ao corpo do homem, revertendo sua criação da costela e sua união como um. Pois nos últimos dias da humanidade, assim lembravam os computadores, houve uma forte deterioração nas relações entre fêmeas e machos, até que a solução para a guerra foi a paz verdadeira, a abolição dos dois sexos e sua unificação em um único sexo, o que era certamente possível do ponto de vista genético, e considerado mais iluminado, trazer um descendente que não era nem menino nem menina, e portanto não exposto a preconceitos. O próprio sexo era o problema.
Portanto, e isso está de acordo com o mito central dos próprios livros (o computador sabia calcular qual era o mito central), é necessário devolver o conhecimento à árvore. E todos os dados dos livros foram carregados no DNA das florestas eternas, em uma parte protegida do código, onde serão preservados para sempre, e nunca serão lidos. E esta será a vida após a morte, outro mito literário que se realizou, mas além de qualquer imaginação literária. Pois não é a morte dos livros que é a questão, argumentaram na rede de computadores, mas a morte da própria literatura. E para isso não há túmulo, e nem mesmo um cadáver. Mas isso significa que não há alma?